Justificação
Predadores marinhos de topo como os mamíferos marinhos são elementos chave do ecossistema e são normalmente usados como indicadores do estado ambiental de uma área específica. A compreensão tanto da distribuição dos predadores como dos impactos cumulativos, espacialmente explicitos, de múltiplos factores de stress nas populações residentes, é fundamental. Tanto nos Açores como na Madeira tem havido monitorização a longo prazo de cetáceos. Os Cachalotes (Physeter macrocephalus) usam os Açores como área de alimentação e de parição, especialmente por grupos matriarcais que regressam todos os anos e permanecem semanas ou meses aliementando-se na área (Silva et al. 2014). Os Golfinhos Roazes (Tursiops truncatus) são considerados residentes em ambos os arquipélagos (Silva et al. 2009; Dinis et al. 2016), na Madeira existem também grupos residentes de baleias-piloto tropicais (Globicephala macrorhynchus) (Alves et al. 2013).
Atividades humanas podem criar impactos significativos que podem afectar os mamíferos marinhos. A maior parte dos produtos que utilizamos diariamente são descartaveis ou contêm químicos que podem chegar aos oceanos, tornando-se lixo-marinho ou contaminantes. Na Madeira as espécies residentes de cetáceos estão distribuídas no interior de um corredor com elevado tráfego marítimo (principalmente cargueiros e navios de cruzeiro) (Cunha et al. 2017). Nos Açores verificou-se que o ruído de fundo poderia afectar temporariamente as comunicações de longa distância em baleias de barbas (Romagosa et al. 2017). Apesar de que as atividades de observação de baleias sejam regulamentadas por leis regionais. Alterações comportamentais registadas em ambas as regiões indicam alguma perturbação, embora a relevância biológica destas alterações seja desconhecida. A exposição cumulativa a stressores crónicos pode escalar e induzir alterações fisiológicas e ter efeitos a nível populacional. De facto, o stress pode diminuir a resposta imunitária e tornar os animais mais susceptíveis a patogénios infecciosos que por sua vez, podem afectar as taxas reprodutiva e de sobrevivência.